A volta ao trabalho e a amamentação do bebê
Como muitas leitoras tem me escrito pedindo dicas para continuar amamentando quando voltam a trabalhar, pedi que a Gabriela Giacheta, nossa colunista de Aleitamento Materno, abordasse novamente esse assunto.
No texto de hoje, dicas práticas e úteis para as mães que estão voltando ao trabalho, mas pretendem continuar alimentando seus filhos com leite materno. Vale a pena se informar. Não é fácil, mas é possível.
A volta ao trabalho e a amamentação do bebê
Quando pensamos no ato de amamentar, logo imaginamos que sim, realmente é um ato fisiológico, natural e é instintivo para o bebê, mas muitas dificuldades podem surgir. As dificuldades existem porque não podemos esquecer que somos seres humanos e carregamos muitas programações afetivas, culturais e o que a sociedade traz como “correto” e tudo isso pode sim interferir no processo de amamentação.
Dessa forma, apoio, orientação, paciência e acolhimento são fundamentais para sucesso no aleitamento materno. Quando tudo vai bem com o aleitamento, esse ato de amor e nutrição passa a ser um dos momentos mais gostosos entre mãe e bebê, onde nos entregamos de corpo e alma e recebemos como troca olhares, toques, sorrisos, enfim. É muito amor!!!! E então, o momento do retorno ao trabalho passa a ser uma preocupação que, muitas vezes, deixam as mulheres inquietas nas primeiras semanas de vida do bebê.
E agora vou ter que desmamar o meu bebê??? Mas é o nosso momento mais íntimo e delicioso!!!
Esta é uma entre tantas outras preocupações que surgem neste momento de mudança de rotina e medo de quebra do vínculo, pois continuar amamentando é um alimento afetivo de extrema importância para mulher e seu bebê.
Eu já passei por isso: uma volta ao trabalho com bebê de quatro meses e meio. É sim angustiante, mas não tinha todas as informações que tenho hoje e meu filho teve como consequência um desmame precoce. Lembrando que, quando um bebê desmama antes de um ano de vida, mesmo que de forma “natural” é considerado um desmame precoce.
E como podemos evitar isso?
Bom, infelizmente não temos uma lei digna que permita que essa mãe fique com se bebê no primeiro ano de vida. Isso sim seria maravilhoso, pois além do valor nutricional do leite ainda há a possibilidade do bebê permanecer ao lado da mãe nesse primeiro ano, o que é extremamente importante (Um adendo: para garantirmos isso, podemos nos unir e lutar por esse direito, através do pelo projeto de lei 6.998/2013. Clique aqui e saiba mais sobre esse projeto e o que o dr. José Martins Filho fala sobre).
Quanto à amamentação, posso dizer de antemão que NÃO é preciso parar de amamentar. Será preciso determinação, dedicação e colaboração do berçário e/ou cuidador que escolherem, pois se optar por oferecer seu leite extraído através da colher dosadora ou copinho vai precisar mais ainda do apoio deles (escola ou cuidador).
Aqui seguirei com orientações importantes quanto à coleta, armazenando e alimentação do bebê com leite humano materno ordenhado.
Antes do retorno ao trabalho: manter o aleitamento materno exclusivo, conhecer as facilidades para a retirada e armazenamento do leite no local de trabalho (privacidade, geladeira, horários), praticar a ordenha do leite e iniciar o estoque de leite 15 dias antes do retorno ao trabalho.
Após o retorno ao trabalho: amamentar com frequência quando estiver em casa (sempre que bebê desejar), inclusive à noite, e evitar mamadeiras, que podem gerar confusão de bicos. Vale lembrar que quando iniciamos uma nova rotina, o bebê muda seus hábitos e horários, podendo solicitar mamar mais vezes para sentir-se seguro e poder enfrentar as mudanças. Durante as horas de trabalho, esvaziar as mamas por meio de ordenha e guardar o leite em geladeira. Levar para casa e oferecer à criança no mesmo dia ou no dia seguinte ou congelar.
Como extrair o leite?
Em primeiro lugar, temos que lembrar sempre que não há ordenha (extração de leite) sem massagem, o segredo de uma boa ordenha é a massagem!
- Lave bem as mãos, esfregue-as uma na outra aquecendo-as e, após, inicie a massagem em movimentos circulares da aréola para o resto da mama. Pode-se realizar com o dedo indicador e médio juntos, assim como com as mãos espalmadas. Procure massagear regiões com nódulos e/ou tensas, depois pode-se seguir a sequencia da massagem da mama para a aréola (movimento drenagem). A massagem deve ser realizada pelo menos por 5 min e depois inicia-se a ordenha. Se ao longo desta o fluxo de leite diminuir pode-se massagear novamente. DICA: o leite fica em forma de gel nas mamas por isso é importante a massagem para liquidifica-lo.
- O ambiente para ordenha deve ser calmo e tranquilo.
A ordenha pode ser realizada de forma manual (ordenha manual) ou com bombas extratoras. Mas cuidado: as bombas extratoras devem ser de boa qualidade e utilizadas de forma correta. Procure a orientação de um profissional antes do uso. Os primeiros jatos de leite devem ser desprezados.
NÃO são recomendadas bombas com “pera”, tipo buzina de bicicleta e nem bombas que parecem uma seringa e acoplam somente nos mamilos puxando os mesmos para frente. Se a bomba não for de boa qualidade é mais seguro e recomendável que a ordenha seja realizada manualmente mesmo.
Recomendo bombas elétricas ou manuais de boa qualidade que acoplem em toda a mama:
Como acondicionar o leite?
- O leite extraído deve ser acondicionado em potes pequenos de plástico duro ou vidro, que possam ser lavados com uma escova ou com a mão, com detergente e depois fervidos ou esterilizados (depois que a água levanta fervura abaixa-se o fogo e mantém em fervura por 15 minutos).
Como conservar o leite?
O leite materno ordenhado por você na sua casa é o que chamamos de “leite cru”, portanto deve-se seguir cuidadosamente as orientações abaixo para guardar, congelar e descongelar o leite.
- Para congelar/ resfriar: procure estocar em porções de acordo com a demanda do bebê. Imediatamente após a ordenha, feche o pote e coloque-o sob água com gelo por um ou dois minutos. Marque no pote a data e a hora da coleta. Não é recomendado congelar leite materno em congelador/freezer de refrigeradores (geladeira) de uma porta só.
- Validade do leite cru: acondicionado em geladeira (nao pode ser na porta) – 12h / em freezer ou congelador – 15 dias
- Para misturar leite fresco ao leite já refrigerado, recomenda-se extração em um novo recipiente e, após isso, resfrie-o antes de juntar ao que já foi refrigerado ou congelado. Orientamos que apenas os leites extraídos na mesma data sejam colocados no mesmo frasco.
Como descongelar o leite?
- O leite deve ser descongelado lentamente, deixando-o no refrigerador na noite anterior ao consumo ou algumas horas antes.
- Agite o recipiente com o leite em água quente, não fervendo. Recomenda-se esquentar uma água em banho-maria, desligá-la e após aquecer o leite.
- Importante: Cuidado, o calor excessivo destrói as enzimas e proteínas presentes no leite. Descongele sempre a quantidade total, pois as gorduras se separam ao congelar.
- Depois de descongelado o leite deve ser consumido em 24 horas.
- Não se recomenda re-congelar o leite após ter sido descongelado parcial ou totalmente.
- Se houver sobra de leite morno no recipiente esterilizado este pode ser resfriado apenas uma vez para a próxima oferta. NUNCA use o leite que ficou no recipiente em que o bebê mamou, pois a saliva pode contaminar o mesmo.
Como alimentar o bebê com o leite ordenhado?
A OMS (Organização Mundial de Saúde), UNICEF e diversos outros órgãos ligados ao cuidado com o bebê NÃO recomendam o uso de mamadeira, pois mamadeiras e chupetas podem levar a um fenômeno chamado “confusão de bicos”, situação em que o bebê fica “preguiçoso” em “ordenhar” o peito com a língua, pois é muito mais trabalhoso do que “chupar” a mamadeira. Desta forma, recomendamos que o bebê seja alimentado através de colher, colher dosadora, copinho ou copo de transição.
Como tudo na vida, os riscos existem, mas são bem menores quando comparados com a introdução da mamadeira e excesso de bicos (mamadeira e chupeta).
Fonte: www.artedenascer.com.br